I_ Prelúdio
‘’E assim,como punhal colado ao peito selam estas palavras uma sentença intensa e profunda.
Amanhã sei que vou acordar e lembrar de todas as letras,queria saber evitar mas não consigo mais esconder estas palavras nauseantes que me fazem adoecer.
Dito,enfim foi dito.
Aliviou,mas não o bastante pra sentir teu corpo aqui.’’
II_ Despertar
Já se passou uma semana e estas imagens continuam tão vivas em minha mente,sinto-me envolto naquele mesmo momento sombrio,em um ciclo de intermináveis lamentos e gritos ao vento.
Apalpo a parede em busca do interruptor,um gesto sem motivos pois a luz do dia clareia de forma evidente este espaço vazio e sombrio no qual costumo descansar.Os móveis gastos e o chão escasso,uma aparência um tanto rústica por assim dizer.
Meu relógio digital e sem graça marca a hora como se quisesse me expulsar de meu sono forçado e cansado.Nunca fora tão difícil encarar a calmaria de mais um dia comum(este para os que observam ao longe).
Sinto que devia estar assustado com estes sussurros quase inauditiveis,acostumar-se ao assustador já se tornou tão comum e banal(risos),não é de se admirar que eu tenha cometido um ato tão monstruoso cruel e asqueroso,oh deus como me arrependo,como dói respirar.
Me levanto e caminho até o banheiro,sinto um cheiro forte de urina e sangue mas não tenho vontade alguma de tentar descobrir.
Descobrir ou reafirmar?Afinal,se foi um ato cometido por minhas próprias mãos tendo como principal autor eu mesmo e ninguém menos,sou pois o dono da verdade que quero negar.
Ignoro tudo e parto sem me arrumar,deixo para trás instrumentos e utencílios necessários a minha rotina,afinal nada disto importa mais.
Abro a porta e sinto a Calmaria ao som do orvalho,a neve cai lenta desse lado da cidade.
Os flocos cintilam e dançam ao som do violino,que corta o ar com seu arco dourado.
Penso em tudo que tem acontecido,reflexão e acalento.
Os assuntos se atrofiam,não há nada de divino e coragem que um dia espero esta chegar.
O amor se assimila ao chão,pisoteado,sujo e maltratado.
A hipocrisia ri pelos cantos,o mundo chora abafado.
O remorso impregnado em meus lençóis,marcas de sangue em todos os cantos(a visão ainda turva e presa ao pretérito próximo)
A dor de acordar novamente golpeia forte meu pulmão.
III_Sentimentos rotineiros
Belo horizonte nunca esteve tão estranha,ao contrário da constante correria e cheiro podre de perfume barato e ambição.Está calma,silenciosa e assustadoramente pacata.
Aonde estão os trabalhadores frustrados?As mães preocupadas e os andarilhos famintos?
Tudo que vejo são homens e mulheres desprovidos de qualquer obrigação e preocupação,pensando distante e encarando vagamente o horizonte.
Quem seriam?De onde Teriam vindo?Aonde estou realmente?
Meu coração bate mais forte e o medo volta a crescer.E se algum deles souber o que eu fiz ?
Não,nenhum deles sabe,que pensamento tolo este(risos).Ninguém pode saber.
Esqueço de tudo e sigo meu caminho ao local costumeiro aonde sempre espero o ônibus que me conduz ao trabalho,a neve ainda grossa porém não há frio muito pelo contrário,sinto um calor reconfortante.São seis e meia e eu sinto calor e esperança.Como e porque ?
Céus aonde está esse maldito ônibus?
30 minutos já se passaram e eu continuo aqui inerte e sem graça,fielmente observando a calmaria nada rotineira de belo horizonte.Ah! jáconsigo encherga-lo chegando.
Adentro o ônibus e me deparo com uma situação ainda mais estranha,todos os assentos estão vazios e não há ninguém no ônibus exceto por mim e o motorista.
Ele me olha estranho, com um sorriso doentio no rosto como o de alguém que sabe tudo aquilo que você vem se empenhando pra esconder.
Continuo tentando ignorar e sigo meu caminho.Acendo um cigarro e espero assim chegar logo ao trabalho,afinal sem pessoas no ônibus quem vai me dizer que não e permitido fumar aqui ?
Outro fato estranho,não há transito engarrafamentos nada do tipo.
Apensa algumas poucas pessoas que circulam as ruas,como isto seria possível?
No mundo onde vivo nada disso costuma acontecer,não espere, eu estou no mundo em que vivo! Não estou?
Dou sinal e peço para descer,novamente o motorista sorri para mim.Preciso voltar para casa nem que seja a pé,não vou me arriscar novamente com os ônibus.
Começo a andar e agora as poucas pessoas que estão nas ruas,começam a me encarar.Paro um segundo e agora vejo que todas estão me olhando,de caras fechadas e com um olhar estranho.Estariam tentando me intimidar?
Não há tempo pra isto,preciso voltar para casa,preciso chegar aquele cômodo antes que alguém possa descobrir o que há lá.Presumo que devido aos fatos ocorridos,meu emprego não é o mais importante no momento.
IV_Verdades
Por fim consigo chegar em casa, fico de frente a minha moradia sombria,nunca a apreciei de verdade.Sempre detestei esta casa e esse bairro de péssima qualidade.
Pego minha chave velha e enferrujada e abro o portão,este ao abrir emite um terrível ruído que ecoa de forma tão assustadora que os pássaros alçam voo e as arvores começam a chocoalhar.
Agora com um pouco mais de pressa abro a segunda porta e adentro minha casa.O cheiro de morte está ainda mais forte,poderíamos vizinhos terem sentido tal cheiro?Estariam eles desconfiados do que aconteceu aqui?Nada disto,eles não podem descobrir.
Mas eu não sei nada sobre isso,nunca havia feito tal coisa antes,apenas tinha visto em filmes e documentários.Como farei para me livrar das evidências deste crime hediondo?
Começo a caminhar para o banheiro,o cheiro fica mais forte.Sinto uma forte vontade de fugir pra longe daqui,bem longe mas essa não é a resposta.
Respiro bem fundo e continuo meu percurso ao banheiro,quando chego na porta e me deparo com algo que meus olhos se recusaram a acreditar.
Não é possível,como isto poderia acontecer? Não há como não,não!
O corpo desapareceu!
o cheiro permanece mas não há corpo,sangue não há nada.É como se ele tivesse desintegrado ou simplesmente desaparecido.
Será que alguém poderia te-lo removido? Mas e o sangue?Como essa pessoa removeria um corpo e todo aquele sangue impregnado no chão em tão pouco tempo afinal eu devo ter me ausentado por no máximo uma hora.
E agora? O que faço? Como vou saber o que aconteceu?
Tenho que sair desta casa,não aguento mas esse cheiro nauseante que esta no ar aqui.Vou me distanciar e assim pensar em uma forma de descobrir oque aconteceu.
Passo novamente pelo meu portão e ponho-me a correr,vou para longe de tudo,correr até não houver mais perguntas e apenas respostas.
V_ As famosas despedidas
Após correr por tanto tempo agora vencido pelo cansaço decido parar,e ao faze-lo percebo que enquanto estive correndo não mantive atenção ao que acontecia ao meu redor,nem na paisagem nem nas pessoas que estavam passando.Eu escutava gritos mas não parava para conferir,meu medo era maior que minha curiosidade.
Agora refletindo um pouco pude perceber,os gritos eram ofensas,agora consigo me lembrar,eles diziam:
-Suicida! Assassino! Covarde.Oh meu deus eles sabem,se gritam é porque sabem o que fiz.
Há mais pessoas ao meu redor agora,elas vão chegando aos poucos com ofensas prontas e fogo nos olhos,trazendo em sua consciência o fim.
Eles começam a cuspir suas ofensas,todos dizem como que em um coro:
-Assassino! Você merece morrer!Sujo,COVARDE!
Os gritos cada vez mais forte me ferem de tal forma que me ponho a chorar,me ajoelho e começo a gritar:
_Tudo bem seus malditos! Eu confesso! Eu a matei,eu tirei-lhe a vida!Pedaço por pedaço eu dei fim a sua vida e ao que restava de bom em sua alma pura e intocável,eu exterminei aqueles lindos olhos e no auge de sua perfeição ranquei-lhe o que vocês preservam de mais sagrado,oh sim eu tirei-lhe a integridade.EU A MATEI!
-E assim,como punhal colado ao peito selam estas palavras uma sentença intensa e profunda.
Amanhã sei que vou acordar e lembrar de todas as letras,queria saber evitar mas não consigo mais esconder estas palavras nauseantes que me fazem adoecer.
Dito,enfim foi dito.
Aliviou,mas não o bastante pra sentir teu corpo aqui.
Confessei ter matado minha esposa na espera de que eles desse m logo um fim ao meu sofrimento,que me espancassem e terminassem com a dor que crescia mais e mais em mim.
Porém da disto aconteceu,eles começaram a recuar e a sorrir.Os gritos haviam cessado e as pessoas ia simplesmente desaparecendo.Uma por uma elas se forame me deixaram ali sozinho em uma avenida sem ninguém.
Mas as poucos tudo ao meu redor também começava a ceder e sumir,os prédios iam desmoronando mas sem fazer nenhum barulho.As ruas iam retrocedendo e sumindo.Por fim meus membros começavam também a desaparecer.Primeiro as pernas,depois os braços , o tronco e meu pescoço.
Tudo estava escuro e nem pensar eu conseguia mais.O que teria sido tudo isso?
VI_Aceitação
É incrível como o medo me aprisionou nos subúrbios de minha própria mente, pode conhecer o mais íntimo de minha alma e me deparar com as piores feições jamais esperadas.
Sim,fora apenas um sonho,do qual ainda não consegui acordar mas sei que é um sonho.
Sei que é um sonho.
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