domingo, 27 de setembro de 2015

Ele ainda desenha ela
todos os dias
-Estou apaixonada
Por mim ?
- É sim por você!

Tristes sentenças que selaram a sentença de um réu que nunca esperou condenação
Uma mentira tão forte que se transformou em esperança para joelhos cansados de sangrar
E quando dobra a esquina, ela, linda, majestosa, bêbada e acompanhada
Esquece que deixou para trás,a paixão que jurou guardar
Carregando no peito o sinal da vergonha e angústia
queima seus dedos com cigarro para sentir algo além
dos pêndulos que a imergiam na memória daquelas duas frases
Ela dobra outra esquina, sorri alto
Ele bafora bêbado o nome dela na janela
Ergue-se um isqueiro, representação de sua pequena morte
seis segundos, seis malditos segundos
Respira, cospe o choro no chão, pega a chave no bolso
Porta, sapato, pé descalço, cama, soco na parede
Um ultimo trago, se olha no espelho
Quando foi que ele se esqueceu de que um dia já viveu?
Toca seu rosto mais forte, deixa marcas
deixa perguntas, mas não deixa promessas
não não, chega de promessas
cospe outro choro no chão
cospe algumas verdades que só a noite consegue escutar
E morreu
morreu pedindo para viver, pedindo para sentir
Caiu em esquecimento e nasceu outra vez
outro ser, mais frio, mais duro
um ser morto que caminha
que caminha


Descobri em uma noite quente como inferno que guardava em meu coração
que das paixões não levo nada
Uma noite tão vazia quanto o sorriso do trocador cansado
Nos encaramos por um instante, ele vê lágrimas em meus olhos
não sabe se deve perguntar algo, me deixa passar em silêncio
Ele me vê olhando pra esquina com olhos atentos
ele sabe que eu espero ver algo
ele sabe pois também já sentiu
assim como todos já sentiram
uma comunhão de silêncio e mágoas embriagadas em um ônibus as três da manhã
E os olhos dela, claros
se deitam com outros olhares essa noite
não o meu